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Depois de David a ter humilhado na Índia, Ann nunca mais lhe teve o mesmo amor de antes. Ela sabia que David não aguentaria sozinho o peso dessa humilhação e prometeu nunca o abandonar. A verdade é que fisicamente Ann esteve sempre presente do lado dele, mas como sua mulher de facto ela já o havia abandonado há muito.
Assim o faria também com Luís Bernardo. Abandoná-lo-ia sem pudor e da pior maneira, que ele só percebeu quando a viu nos braços não do marido mas de um negro que ele e David haviam salvo da morte certa. Ele amou-a desde o primeiro instante e Ann cegou-o de paixão e desejo. Fê-lo acreditar que iria tê-la ao seu lado para sempre e que deixaria tudo por ele. Fê-lo trair a confiança e a amizade de David e pôr em causa a sua missão.
Era uma mulher sem escrúpulos, capaz de se fazer frágil e sensível, mas isso era apenas o véu que escondia o seu egoísmo e a sua capacidade de magoar os outros. Abandonou-os aos dois. A David abandonou-o no carinho e no amor. A Luís Bernardo abandonou-o na vida, na paixão. Em tudo o que ele tinha ela abandonou-o. Deixou-os aos dois sozinhos, embora de maneiras diferentes, no meio daquela ilha perdida no Equador.
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Mas aquilo que realmente nos apaixona no livro é a história do homem que, contra tudo e todos, lutou por um ideal e tentou, por todos os meios que tinha, mostrar aos habitantes das ilhas o caminho a seguir. Luís Bernardo era a coragem em pessoa.
Numa manhã chuvosa de Dezembro de 1905, entrou no Palácio de Vila Viçosa sem saber ao que ia e saiu de lá com o destino tragicamente traçado.
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Quando chegou a S. Tomé ganhou inimigos sem ter feito por isso e ainda assim lutou contra uma ilha inteira pela qual se apaixonou, quase sem se dar conta. Luís Bernardo amou pela primeira vez algo e alguém. Amou a ilha e amou Ann. A mulher que lhe trouxe a vontade de viver naquele desterro e que contribuiu com o seu abandono para que ele optasse pelo pior caminho: o suicídio.
Luís Bernardo não teria abandonado S. Tomé, não teria abandonado os trabalhadores escravos da ilha, não teria abandonado os amigos, não teria abandonado a sua missão, enfim, não teria abandonado a vida se não fosse esse amor pela mulher daquele que ele sabia gostar sinceramente e que admirava como amigo: David.
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Uma história fascinante sobre um momento complicado da história de Portugal. Um romance que nos “obriga” a amar verdadeiramente S. Tomé tanto quanto Luís Bernardo a amou.
De uma maneira ou de outra Equador é um livro comovente. Tanto pela história de amor de Ann e do Governador de S. Tomé e Príncipe, como pela força e pela coragem com que Luís Bernardo Valença enfrentou a dura realidade portuguesa em S. Tomé: o trabalho escravo.
Certamente o melhor livro que li até hoje, porque é irremediavelmente apaixonante.
Sofri, senti e chorei com Luís Bernardo. Senti o ódio e a raiva que lhe corriam nas veias por todos os que ousaram fazer-lhe frente. Senti o carinho sincero e a admiração que ele tinha por David e o amor por Ann. Senti o esforço que ele fez para tentar levar a sua missão de acabar com o trabalho escravo em S. Tomé a bom porto. Irritei-me muitas vezes por não poder interferir no curso natural da história e o resultado de toda esta entrega não podia ser melhor. Amei o livro desde a primeira linha até à última palavra e foi sem dúvida um marco para mim lê-lo mais do que qualquer outro livro.
Equador é um encanto e com toda a certeza não passará despercebido a todos os que gostam de ler e até aos que não gostam pois transporta-nos para uma realidade que não conhecemos mas que foi verdade e que para muita gente ainda está bem viva na memória.
A meu ver não há nada que se possa dizer menos bom no livro. Tudo é emocionante. Tudo é fantástico. Tudo é perfeito.
Uma história admiravelmente bem escrita, comovente e perturbadora, Equador é um livro ao qual é impossível resistir.
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